O governo não só não resolveu o problema do rendimento da caderneta de poupança -empurrando com a barriga o caso mais lá para a frente - como também não explicou para a população quais os reais motivos que se escondem por trás da mudança e quais serão os próximos passos.
Pergunte para qualquer cidadão na rua, ou até mesmo para as pessoas com mais acesso à informação, por quê o governo está fazendo essa mexida agora e poucos, pouquíssimos mesmo, saberão responder.
A verdade é que o rendimento da poupança precisa ser alterado. A caderneta subsiste como um dois dois únicos - tem também as LTFs, as Letras do Tesouro Nacional - investimentos do tempo do Brasil inflacionário.
Em uma economia moderna, estável e em processo de desenvolvimento como a nossa simplesmente não há espaço para uma aplicação com rendimento garantido de 6% ao ano. A indexação da caderneta engessa um monte de coisas na economia e a principal delas é a perspectiva de queda dos juros básicos do Selic. A atual remuneração da caderneta impede que os juros caiam abaixo de 8% porque, se caírem, nós teríamos o absurdo de uma aplicação administrada pelo governo que pagaria mais do o próprio governo nas operações com títulos públicos.
Então, a poupança têm que mudar sim e, se quisermos mesmo avançar para uma economia moderna, é preciso ter coragem para fazer a verdadeira mudança na poupança que seria transformá-la em uma aplicação com rendimento variável. E isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Provavelmente mais tarde e talvez tarde demais.
Ao falar sobre os motivos que o levaram a mudar a caderneta, o governo contou apenas metade da história. Confessou o temor de uma corrida dos grandes investidores para a aplicação, o que realmente seria um problema. Até porque os bancos são obrigados a destinar 65% dos recursos da caderneta para o financiamento imobiliário. Se a carteira crescesse muito, os bancos, para cumprir o mecanismo legal, tenderiam a reduzir os critérios para empréstimo de dinheiro para o setor da construção e aí poderíamos ter aqui uma bolha imobiliária parecida com a norte-americana.
O que o governo deixou de dizer é que a migração dos tubarões também o efeta diretamente. Boa parte dos fundos de investimento, onde hoje os grandes aplicam dinheiro, é composta principalmente por títulos da dívida pública. Ou seja, é nos fundos de investimento que o governo vai buscar dinheiro toda vez que precisa rolar a sua dívida.
Para entender melhor, pense no governo como uma pessoa comum que tem uma dívida enorme para quitar e no momento do vencimento de uma das parcelas não têm como pagá-la. O que faz essa pessoa? Vai até o banco e assina um "papagaio". No caso do governo, ele emite um título e vende, captando dinheiro no mercado. E quem compra o título é remunerado pelo dinheiro que emprestou.
No limite, se houvesse uma fuga muito grande de dinheiro dos fundos de investimento, o governo poderia ficar sem ter de onde captar recursos para rolar a dívida. Um problemaço.
Trocando em miúdos, o governo, neste momento, precisa manter os tubarões onde estão porque não consegue ser eficiente o suficiente para diminuir o tamanho da dívida pública.
Agora, olhando para o futuro próximo, acredito que, com o caminho livre, os juros vão ter uma queda significativa na próxima reunião do Copom, no começo de junho. O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, dexou escapar isso ontem.
O que é bom, porque juros menores estimulam o setor produtivo a buscar financiamento para investir em mais produção e colocar a roda da economia real para girar.
Querem saber o que eu acho? Acho que essa história de tabela progressiva para cobrança de IR sobre rendimento da poupança apresentada ontem é coisa para inglês ver. Repararam a simetria entre a atual taxa Selic de 10,25% e o ponto máximo de progressão da tabela com a Selic em 7,25%?
Então, na minha opinião, vai acontecer o seguinte: na próxima reunião do Copom o governo vai promover um corte drástico nos juros de 3 pontos percentuais, jogando a Selic para 7,25%. E, na vera, não vai rolar tabela progressiva nenhuma.Quem tem saldo de popupança superior a R$50mil vai pagar Imposto de Renda integral sobre o rendimento.
É esperar para ver.
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