Thursday, April 23, 2009

Vale quanto pesa

Esse era o nome de um sabonete "meia-boca" muito popular na década de 80. Mas não é o sabonete o assunto deste post. Eu quero mesmo é falar sobre a Vale, a mineradora que pesa, e muito, na balança comercial e na economia do Pará. A empresa, como de resto todas as grandes companhias mundiais do ramo de commodities, está sentindo o impacto da crise.

Na última semana, a Vale emitiu dois comunicados importantes para nós, paraenses. O primeiro deles é que vai oferecer um desconto de 20% no preço do minério de ferro. Também sobre o minério, anunciou que vai negociar por último os seus contratos. É a primeira vez, pelo menos desde que foi privatizada e se transformou em um gigante multinacional, que a mineradora deixa de liderar as negociações sobre o preço do ferro. 

O segundo deles é que vai atrasar em pelo menos um ano a entrada em operação do projeto Onça Puma, de produção de níquel em Ourilândia do Norte. O atraso se deve, segundo a empresa, à dificuldade para obtenção de licença ambiental. Ah, então quer dizer que não tem nada a ver com o fato de o preço internacional do níquel ter caido mais de 70% em doze meses? Ok. A mineradora decidiu ainda paralisar por oito semanas - entre 1º de junho e 27 de julho - as minas e usinas de beneficiamento de níquel de Sudbury, na província de Ontário, Canadá.

Bom, estamos começando a chegar ao ponto. No extremo norte do continente, o anúncio levou o governo canadense a exigir, imediatamente, explicações da Vale sobre os motivos da paralisação. Aqui... Bem, aqui no Pará ficou todo mundo calado. O governo do Estado não moveu um músculo. Se fingiu de morto. Não cobrou uma explicação do senhor Agnelli. 

Se cobrou, fez tudo muito escondido. Não noticiou nem no site do governo.  É verdade que a imprensa local dificilmente divulgaria uma linha sobre o assunto, mas essa é outra conversa. Ao não se pronunciar, o governo do Estado assinou, para o setor empresarial, o atestado de que realmente não têm agilidade suficiente para liberar licenças ambientais. Assumiu a responsabilidade pelo atraso do projeto Onça Puma.

A queda nos preços internacionais das commodities minerais vai provocar mudanças no cenário das grandes mineradoras. Aliás, já está provocando. E as consequências dessa mudança de quadro podem ser desastrosas para o nosso Estado.


A Vale é uma empresa privada que precisa dar retorno aos seus acionistas. Sua lógica é de mercado. Agora, pensemos em Carajás. A Vale tem lá minério de ferro da melhor qualidade. E os preços do minério estão em queda.

Se você tivesse na mão um produto de altíssima qualidade, mas para o qual o mercado está pagando pouco hoje, o que você faria? Venderia o produto na baixa ou esperaria até os preços melhorarem?

O que você acha que a Vale vai fazer? Se eu fosse o Agnelli reduzia ao máximo as vendas. Sentava em cima da mina e esperava o mercado estabilizar. É o que ele já fez em relação à Onça Puma. Adotar a mesma medida em relação aos demais minérios é apenas uma questão de a crise se agravar mais um pouco.

Para se ter a dimensão da importância da Vale na economia, os economistas daqui já projetam perdas no PIB do Pará em 2008 e 2009 só por conta dessa queda no preço dos minérios. Para usar uma expressão que eles adoram, a expectativa é de crescimento negativo do PIB pelo menos em 2009 por conta da turbulência.

Por tudo isso, já está passando da hora de o Estado chamar o senhor Agnelli para uma conversa séria. Sem as subserviências que sempre marcaram as relações do governo com a mineradora. 

3 comments:

Blog do Miguel Oliveira said...

Simone, que legal o teu blog.
Espero que nada fique fora de teu alcance.
Estamos aqui www.blogdoestado.blogspot.com

Miguel Oliveira

Simone Romero said...

Obrigada Miguel. Estou intrigada. Como você me achou?

Blog do Miguel Oliveira said...

que pergunta de foca?