Tuesday, April 28, 2009

Eu consumo, tu consomes e nós nos endividamos

O Banco Central divulgou na sexta-feira, 24 de abril,  a pesquisa anual "Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo do Brasil". 

Alguns pontos importantes da pesquisa:

  • O uso da função débito cresceu 23,5% em 2008 ante 2007 e o cartão de crédito teve expansão de 14,8% na mesma base de comparação. 
  • O cartão pagou 53,8% de todas as compras feitas no varejo no ano passado. Em 2007, era o meio usado em 50,3% dos pagamentos.
  • O ano passado terminou com R$ 2,1 bilhões de compras pagas com cartão de crédito no Brasil. Outras 1,373 bilhão de operações foram pagas com cartão de débito em conta. Desde 2003, o uso da função crédito do cartão saltou 129% e a utilização do débito aumentou 217%. 
  • No fim de 2008, os brasileiros carregavam 207,9 milhões de cartões de débito nas carteiras. O número é 14% maior que o registrado em 2007 e mostra que, na média, cada conta possui 1,65 cartão de débito. O número de cartões de crédito aumentou 12,2% no mesmo período, para 132,1 milhões de unidades em circulação - o que corresponde a 1,05 cartão por conta.
  • Ao mesmo tempo, o uso do cheque continua caindo. Em 2008, o comércio recebeu 1,373 bilhão de folhas de cheque, número 5,2% menor que o visto no ano anterior. Na comparação com 2003, a redução é de 36%. Segundo o estudo do BC, essa migração dos pagamentos em cheque para o cartão acontece principalmente nas compras de menor valor. 
Fonte: FolhaOnline

Bom, e onde eu quero chegar? No perigo que a expansão do uso dos cartões de crédito representa para o orçamento doméstico.

O risco é maior ainda agora, com o governo criando toda uma série de estímulos para o consumo. Já se fala, inclusive, em espandir a isenção de IPI para produtos como os ventiladores. Os efeitos desses pacotes de bondades sobre os orçamentos estaduais e municipais será tema de uma outra postagem.

Agora, eu quero me concentrar nos efeitos sobre o consumo. Em primeiro lugar é preciso destacar que o governo está certo ao estimular o consumo interno. Essa é uma medida importante para a crise. Com os mercados internacionais fechados neste momento, a indústria brasileira, para manter o nível de atividade, vai precisar apostar na clientela brazuca. 

O problema é que o brasileiro, na média, ainda não aprendeu a consumir de forma consciente. No Pará, por exemplo, um estudo reservado do Banco Central aponta para um crescimento preocupante do endividamento.  Preocupante porque endividamento significa comprometimento do consumo futuro. Ou seja, uma bomba pode estourar lá na frente.  E  se estiver somado ao crescimento da inadimplência vira calote em proporções que podem levar a uma quebradeira no comércio local.

Aliás esse crescimento do endividamento explica muita coisa para mim. Explica, em parte, porque o mercado de Belém esteve qualhado, nos últimos anos, por lançamentos imobiliários de alto padrão eporque tem tanto carro novo circulando pela cidade. 

Explica também porque boa parte desses lançamentos imobiliários está parado agora, mas isso, também, eu vou comentar mais oportunamente.

Já observei que o paraense não foge à regra da média do consumidor brasileiro. É imediatista na hora de adquirir bens.  Não planeja. É planejamento é fundamental.

Quer ver um erro comum? É contrair uma dívida simplesmente baseando-se no seu valor, sem avaliar a capacidade de pagamento embutida no orçamentodoméstico. 

Uma prestação de R$ 200 pode parecer aceitável para quem ganha R$4 mil, mas antes de contrair a dívida é fundamental somar todas as despesas fixas e variáveis doorçamento mensal para saber se esses módicos R$200 não vão se transformar em algo pesado no médio prazo.

Outro erro bastante comum é pensar que a compra a crédito dispensa a necessidade de se fazer uma poupança prévia. Juntar algum dinheiro, mesmo que pouco, é importante porque, lá na frente, se surgir alguma situação inesperada (gastos inprevistos, por exemplo) há uma folga orçamentária para se trabalhar. 

Comprometer todo o orçamento sem ter nenhum dinheiro guardado, isso sim é uma brincadeira perigosa: roleta russa é para os fracos!

Do dados divulgados pelo Banco Central sobre 2008, o mais preocupante é o avanço do uso do cartão de crédito. 

Entre os paraenses - e no Brasil inteiro também não é muito diferente - há um número significativo de pessoas que usam o cartão e o cheque especial como forma de complementar a renda mensal. Nada mais explosivo. 

Para entender melhor o que eu quero dizer, dá um pulinho no blog produzindo.net e leia este artigo. Ele mostra a diferença entre uma boa e uma má dívida. 

É difícil e, na maioria dos casos pode ser traumático, mas a única forma de evitar se tornar escravo de dívidas é ter um padrão de vida compatível com o orçamento.  

Nada mais fácil e nada mais complicado. 

Então, o que fazer agora? Enfiar todo o dinheiro debaixo do colchão? Não necessariamente. Com um pouco de sabedoria é possível aproveitar o bom momento para comprar. O  blog dinheirama tem um excelente artigo sobre o assunto.



 


0 comments: