Wednesday, April 29, 2009

Enxugando Gelo II

Acabei de conversar com uma grande amiga jornalista, que me lembrou um aspecto importante sobre a postagem aí de baixo.


"Mas Simone, será que alguém que participou da coletiva fez essas perguntas que você fez no texto aos secretários?"

Bingo! É verdade. 

É óbvio que o governo sabe exatamente quanto vai enxugar das despesas. Em nenhum momento me passou pela cabeça que não soubesse. E essa informação deveria estar lá, esperando para ser liberada no momento que houvesse a pergunta.

Continuo achando que essa informação deveria ter sido repassada à sociedade independente da provocação dos jornalistas.

Mas devo concordar, também, que infelizmente os jornalistas do nossa terra perguntam cada vez menos. 

E quando se trata de um assunto que envolve números a coisa piora um pouco.

Está na hora de nós jornalistas voltarmos aos fundamentos de nossa profissão. E um deles é perguntar sempre. 

Questionar é a alma de um bom texto porque quanto mais perguntamos, mais entendemos e melhor somos capazes de produzir uma matéria realmente esclarecedora.

Estimular o debate, confrontar idéias, oferecer a informação sobre diferentes ângulos são essenciais para o bom jornalismo.

E são também, artigos em falta -devo admitir com tristeza - no cotidiano das coberturas jornalísticas.

Há muito de responsabilidade do modus operandi     - vamos chamar assim -  das grandes empresas sobre a forma como as matérias vêm sendo produzidas hoje. 

Mas há também uma parcela de responsabilidade individual de cada jornalista com o trabalho que executa que não pode ser deixada de lado.

 

 
   

Enxugando gelo

O governo do Estado anunciou medidas para  cortar os gastos da máquina pública. Nada mais acertado em tempos de crise. A verdade é que o pacote de bondades do governo federal, destinado a estimular o consumo interno, atingiu em cheio importantes tributos compartilhados, como o IPI.


Traduzindo para a linguagem cristã, isso significa que o bolo de receita distribuído pela União para os estados e municípios por meio de mecanismos como os Fundos de Participação, por exemplo, ficou menor. Com uma fatia mais fina, não resta alternativa às administrações públicas a não ser iniciar uma dieta.

O grande problema é que, quase sempre, as medidas adotadas por estados e municípios para conter gastos não atingem o fundo da questão. De uma maneira geral, o Executivo - assim como o Legislativo e o Judiciário - não sabe cortar de forma equilibrada e séria. E a redução de despesas acaba atingindo apenas os palitos de fósforo.

Resumindo, da mesmo maneira como estados e municípios não sabem gastar, sabem menos ainda economizar.

Nos últimos dois anos as despesas de custeio subiram astronomicamente no Pará. O governo, na minha opinião, fez uma aposta arriscada antes da crise. 

Com um quadro econômico extremamente favorável até outubro do ano passado, o governo optou para aumentar as despesas com o custeio da máquina e confiou que verbas externas bancariam a necessidade de investimento no Estado - basicamente: o PAC e a previsão de um empréstimo externo de R$ 1 bilhão via Banco Mundial. 

Mas aí veio a crise. A aplicação de verbas do PAC empacou - par usar um trocadilho que caiu no gosto da mídia - e as fontes internacionais de financiamento secaram. 

Ou seja, vai ser difícil sair desse embróglio. E, não esqueçam, aumentar o ritmo de investimento é importante para manter a economia andando. Até agora, a não ser em fevereiro, quando a governadora anunciou as famosas- e até agora em sua maioria inócuas - 43 medidas para atenuar os efeitos da crise no Estado, não houve nenhuma manifestação do governo sobre investimentos. 

Investimentos com recursos próprios do tesouro estadual, bem entendido. Não precisava ser muita coisa. Basta que servisse para sinalizar a solidez das políticas estaduais e que ajudasse a diminuir o clima de incerteza da economia local.  

Para além da ratoeira armada no caso dos investimentos, o governo também t~em que lidar com uma queda importante nas receitas diante de uma máquina pública cada vez maior.A conta não está fechando.

Quanto às medidas adotadas pelo governo do Pará para diminuir as despesas, eu destacaria um ponto fundamental: Em nenhum momento, até agora, o governo falou quanto é que, na ponta do lápis, vai economizar. 

Ok, os cortes nas despesas de pessoal serão de R$ 25 milhões. Mas quanto representam os 20% de redução no consumo de energia que ocorrerá com a diminuição do expediente nas repartições públicas? E os 30% que serão contingenciados nas Secretarias?

De quanto será, de fato, a economia proposta pelo governo? Quanto representará, na real, diante do total de despesas mensais? Ao não apresentar essas informações - importantíssimas por sinal - o governo perdeu mais uma vez uma boa oportunidade de marcar pontos com a sociedade.

E agora chegamos a um ponto mais complexo dos efeitos dos cortes nas despesas do Executivo. É consenso que a máquina pública gasta mal. Mas gasta. E essas despesas têm um peso na cadeia econômica local. A administração pública - reunindo todos os poderes em todas as esferas- têm uma participação de 17% na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do Pará. 

Não é uma participação desprezível. De cada R$ 100 movimentados pela economia paraense, R$ 17 são gerados pelo setor público - seja em compras, em massa salarial ou coisa que o valha. E falamos apenas da administração pública em estado puro, porque as empresas entram na conta de outros grupos do PIB. O Banpará, estadual, por exemplo, entra no bolo das instituições financeiras e a Eletronorte, federal, na conta do setor energia.

Sabendo disso, percebe-se que o peso do Estado na economia é maior ainda. 

É verdade que a qualidade dos gastos públicos é altamente questionável, mas é verdade também que a economia local precisa que o governo continue comprando - com responsabilidade e (pelamordedeus!) com licitação.

Então, ao cortar despesas - e é preciso cortar despesas- o governo também precisa encontrar um ponto de equilíbrio entre a necessidade de se adequar a um novo momento econômico e a de continuar colaborando para manter um nível saudável de atividade econômica no Pará. 

É preciso cortar com responsabilidade e nos locais certos, em resumo. Ao anunciar as medidas sem apresentá-las sob esse contexto, o governo deixou de fornecer elementos para se analisar se o balanço entre os efeitos positivos e negativos do enxugamento é azul para a sociedade. 





Tuesday, April 28, 2009

Eu consumo, tu consomes e nós nos endividamos

O Banco Central divulgou na sexta-feira, 24 de abril,  a pesquisa anual "Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo do Brasil". 

Alguns pontos importantes da pesquisa:

  • O uso da função débito cresceu 23,5% em 2008 ante 2007 e o cartão de crédito teve expansão de 14,8% na mesma base de comparação. 
  • O cartão pagou 53,8% de todas as compras feitas no varejo no ano passado. Em 2007, era o meio usado em 50,3% dos pagamentos.
  • O ano passado terminou com R$ 2,1 bilhões de compras pagas com cartão de crédito no Brasil. Outras 1,373 bilhão de operações foram pagas com cartão de débito em conta. Desde 2003, o uso da função crédito do cartão saltou 129% e a utilização do débito aumentou 217%. 
  • No fim de 2008, os brasileiros carregavam 207,9 milhões de cartões de débito nas carteiras. O número é 14% maior que o registrado em 2007 e mostra que, na média, cada conta possui 1,65 cartão de débito. O número de cartões de crédito aumentou 12,2% no mesmo período, para 132,1 milhões de unidades em circulação - o que corresponde a 1,05 cartão por conta.
  • Ao mesmo tempo, o uso do cheque continua caindo. Em 2008, o comércio recebeu 1,373 bilhão de folhas de cheque, número 5,2% menor que o visto no ano anterior. Na comparação com 2003, a redução é de 36%. Segundo o estudo do BC, essa migração dos pagamentos em cheque para o cartão acontece principalmente nas compras de menor valor. 
Fonte: FolhaOnline

Bom, e onde eu quero chegar? No perigo que a expansão do uso dos cartões de crédito representa para o orçamento doméstico.

O risco é maior ainda agora, com o governo criando toda uma série de estímulos para o consumo. Já se fala, inclusive, em espandir a isenção de IPI para produtos como os ventiladores. Os efeitos desses pacotes de bondades sobre os orçamentos estaduais e municipais será tema de uma outra postagem.

Agora, eu quero me concentrar nos efeitos sobre o consumo. Em primeiro lugar é preciso destacar que o governo está certo ao estimular o consumo interno. Essa é uma medida importante para a crise. Com os mercados internacionais fechados neste momento, a indústria brasileira, para manter o nível de atividade, vai precisar apostar na clientela brazuca. 

O problema é que o brasileiro, na média, ainda não aprendeu a consumir de forma consciente. No Pará, por exemplo, um estudo reservado do Banco Central aponta para um crescimento preocupante do endividamento.  Preocupante porque endividamento significa comprometimento do consumo futuro. Ou seja, uma bomba pode estourar lá na frente.  E  se estiver somado ao crescimento da inadimplência vira calote em proporções que podem levar a uma quebradeira no comércio local.

Aliás esse crescimento do endividamento explica muita coisa para mim. Explica, em parte, porque o mercado de Belém esteve qualhado, nos últimos anos, por lançamentos imobiliários de alto padrão eporque tem tanto carro novo circulando pela cidade. 

Explica também porque boa parte desses lançamentos imobiliários está parado agora, mas isso, também, eu vou comentar mais oportunamente.

Já observei que o paraense não foge à regra da média do consumidor brasileiro. É imediatista na hora de adquirir bens.  Não planeja. É planejamento é fundamental.

Quer ver um erro comum? É contrair uma dívida simplesmente baseando-se no seu valor, sem avaliar a capacidade de pagamento embutida no orçamentodoméstico. 

Uma prestação de R$ 200 pode parecer aceitável para quem ganha R$4 mil, mas antes de contrair a dívida é fundamental somar todas as despesas fixas e variáveis doorçamento mensal para saber se esses módicos R$200 não vão se transformar em algo pesado no médio prazo.

Outro erro bastante comum é pensar que a compra a crédito dispensa a necessidade de se fazer uma poupança prévia. Juntar algum dinheiro, mesmo que pouco, é importante porque, lá na frente, se surgir alguma situação inesperada (gastos inprevistos, por exemplo) há uma folga orçamentária para se trabalhar. 

Comprometer todo o orçamento sem ter nenhum dinheiro guardado, isso sim é uma brincadeira perigosa: roleta russa é para os fracos!

Do dados divulgados pelo Banco Central sobre 2008, o mais preocupante é o avanço do uso do cartão de crédito. 

Entre os paraenses - e no Brasil inteiro também não é muito diferente - há um número significativo de pessoas que usam o cartão e o cheque especial como forma de complementar a renda mensal. Nada mais explosivo. 

Para entender melhor o que eu quero dizer, dá um pulinho no blog produzindo.net e leia este artigo. Ele mostra a diferença entre uma boa e uma má dívida. 

É difícil e, na maioria dos casos pode ser traumático, mas a única forma de evitar se tornar escravo de dívidas é ter um padrão de vida compatível com o orçamento.  

Nada mais fácil e nada mais complicado. 

Então, o que fazer agora? Enfiar todo o dinheiro debaixo do colchão? Não necessariamente. Com um pouco de sabedoria é possível aproveitar o bom momento para comprar. O  blog dinheirama tem um excelente artigo sobre o assunto.



 


O bom e velho Marx

Não, não estou falando do Groucho - apesar de gostar muito dele também. Estou falando do Karl, aquele que previu - quando o capitalismo ainda não era tão avançado - que esse sistema econômico estava fadado a permanentes ciclos de crise. 


Aqui uma entrevista ótima do historiador Eric Hobsbawm - outro dos meus gurus - para a Carta Maior. Na entrevista Hobsbawm afirma: “Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”

Monday, April 27, 2009

"O mundo está em chamas"

Depois da queda, o coice.


A economia global nem bem caminha para um processo de recuperação - se é que se trata mesmo de recuperação - e chega a gripe suína para colocar mais lenha nessa fogueira. Falando nisso, o autor da frase que dá título a este post é o ministro Guido Mantega. A afirmação foi feita final de semana passado no Fórum do Desenvolvimento, que reúne presentantes do FMI e do Banco Mundial.

Da mesma forma que ninguém pode prever comexatidão como a economia global se comportará nos próximos meses, também é impossível mensurar os efeitos da doença neste cenário recessivo. Tudo vai depender da capacidade de se controlar o avanço da gripe.

Uma coisa, porém, é certa. Diante de mercados nervosos, a tendência é que a gripe suína assuma, neste momento, uma importância muito grande. Talvez maior do que teria se o surto tivesse ocorrido num período pré-crise.

O protecionismo já se consolida como uma tendência forte na economia global e com efeitos que devem se refletir no longo prazo. No Brasil, por exemplo, os contratos de empresas de exportação caíram, este mês, ao menor nível dos últimos 11 anos. 

Se já havia uma barreira sendo construída em relação aos produtos, agora o muro está sendo erguido para as pessoas. 

A perspectiva de expansão da gripe suína vai reduzir a circulação de turistas entre os países. O primeiro efeito disso é a queda das ações de empresas ligadas ao setor turístico e das companhias de aviação. Que já está acontecendo.

E, assim, chegamos a um ponto importante. A "desglobalização". Não é de hoje que especialistas vem alertando para esse risco: uma retração importante nos fluxos de capital e de mercadorias no mundo. Os efeitos disso, mais uma vez, ninguém consegue mensurar ao certo, mas existe uma tendência nesse sentido que vem sendo percebida e não é de hoje. 

Um dos primeiros a falar sobre o assunto foi o ultra-conservador professor de História de Harvard, Niall Ferguson. Veja aqui uma entrevista que ele deu para o Jornal da Ciência em 2005. Na época ele disse que vivíamos um momento semelhante ao pré Primeira Guerra Mundial e que a desglobalização viria pelas mãos de uma crise política - que necessariamente não está descartada. No entanto o mais provável é que a desglobalização se instale como efeito da atual crise econômica. A entrevista está um pouco datada, mas é um interessante documento histórico.

Anda sobre o assunto, existem boas discussões aqui e aqui.

Em breve, volto ao tema.

Friday, April 24, 2009

Até quando?

Recentemente eu participei de um debate muito interessante promovido pelo Idesp sobre os efeitos da crise econômica no Pará. 


Foi ótimo. Poucas pessoas, mas todas muito interessadas. Muitas dúvidas surgiram, assim como muitas informações foram trocadas. 

Tive a oportunidade de ouvir a palestra do economista Danilo Fernando, professor da UFPA. Ele apresentou um quadro geral da crise, apontando as principais certezas e incertezas do momento. 

Como se sabe, a economia mundial hoje está bipolar. Alterna momentos de euforia e de depressão - felizmente, neste último caso, não no sentido econômico da palavra.

Mas existem, sim, algumas certezas, como explicou o economista.Uma delas é que a crise vai marcar o fim dos grandes saldos comerciais.

Nada mais lógico. A riqueza do mundo encolheu. Trilhões de dólares, que não existiam de fato mas que eram negociados como se existissem, desapareceram do globo (tá vendo, economia também tem um pouco de física quântica!). Com menos dinheiro, a tendência é os preços caírem. 

Somado a isso temos também o crescimento do protecionismo dos países. Esse é,aliás, um ponto interessante. Para consumo externo, todos os dirigentes mundiais fazem discursos contra o protecionismo dos mercados. Em casa, porém, aumentam as barreiras para a entrada de produtos estrangeiros.

É uma tendência natural. Com suas economias internas fragilizadas, os países  precisam adotar medidas de estímulo à indústria nacional. E uma das formas de se fazer isso é restringir a entrada de importados.

E ai eu pergunto: Como é que fica o Pará? Nossa economia tem uma base exportadora forte. Nos últimos dez anos, pelo menos, fomos favorecidos por um cenário externo de preços supervalorizados. Nossas exportações cresceram muito. Nossa balança comercial acumulou saldos astronômicos.

Agora, com o mundo menor. Vamos sentir o baque.

O me leva a pensar que nosso estado nunca conseguiu fazer a economia avançar além de ciclos econômicos baseados em commodities. Não temos uma economia estável. Nunca tivemos.

Já vivemos o ciclo da borracha, da madeira - entre tantos outros - e agora a crise nos pegou em pleno ciclo do minério. 

O  Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) desenvolveu uma teoria para explicar a dinâmica do setor florestal no Pará, mas que, na minha opinião, pode ser aplicada a toda economia paraense. É a teoria do "Boom Colapso". Num primeiro momento crescemos muito e depois caímos vertiginosamente igual a uma montanha russa.

O governo do Estado tem agora uma boa oportunidade para tentar reverter esse quadro. Avançar além da economia centrada em produtos primários destinados à exportação e estimular uma indústria de base local com incorporação de tecnologia. É fundamental também, para consolidar essa nova base, centrar as atenções no estímulo às empresas de pequeno e médio portes. 

Ou então  vamos continuar vendo o bonde da história passar.

Thursday, April 23, 2009

Vale quanto pesa

Esse era o nome de um sabonete "meia-boca" muito popular na década de 80. Mas não é o sabonete o assunto deste post. Eu quero mesmo é falar sobre a Vale, a mineradora que pesa, e muito, na balança comercial e na economia do Pará. A empresa, como de resto todas as grandes companhias mundiais do ramo de commodities, está sentindo o impacto da crise.

Na última semana, a Vale emitiu dois comunicados importantes para nós, paraenses. O primeiro deles é que vai oferecer um desconto de 20% no preço do minério de ferro. Também sobre o minério, anunciou que vai negociar por último os seus contratos. É a primeira vez, pelo menos desde que foi privatizada e se transformou em um gigante multinacional, que a mineradora deixa de liderar as negociações sobre o preço do ferro. 

O segundo deles é que vai atrasar em pelo menos um ano a entrada em operação do projeto Onça Puma, de produção de níquel em Ourilândia do Norte. O atraso se deve, segundo a empresa, à dificuldade para obtenção de licença ambiental. Ah, então quer dizer que não tem nada a ver com o fato de o preço internacional do níquel ter caido mais de 70% em doze meses? Ok. A mineradora decidiu ainda paralisar por oito semanas - entre 1º de junho e 27 de julho - as minas e usinas de beneficiamento de níquel de Sudbury, na província de Ontário, Canadá.

Bom, estamos começando a chegar ao ponto. No extremo norte do continente, o anúncio levou o governo canadense a exigir, imediatamente, explicações da Vale sobre os motivos da paralisação. Aqui... Bem, aqui no Pará ficou todo mundo calado. O governo do Estado não moveu um músculo. Se fingiu de morto. Não cobrou uma explicação do senhor Agnelli. 

Se cobrou, fez tudo muito escondido. Não noticiou nem no site do governo.  É verdade que a imprensa local dificilmente divulgaria uma linha sobre o assunto, mas essa é outra conversa. Ao não se pronunciar, o governo do Estado assinou, para o setor empresarial, o atestado de que realmente não têm agilidade suficiente para liberar licenças ambientais. Assumiu a responsabilidade pelo atraso do projeto Onça Puma.

A queda nos preços internacionais das commodities minerais vai provocar mudanças no cenário das grandes mineradoras. Aliás, já está provocando. E as consequências dessa mudança de quadro podem ser desastrosas para o nosso Estado.


A Vale é uma empresa privada que precisa dar retorno aos seus acionistas. Sua lógica é de mercado. Agora, pensemos em Carajás. A Vale tem lá minério de ferro da melhor qualidade. E os preços do minério estão em queda.

Se você tivesse na mão um produto de altíssima qualidade, mas para o qual o mercado está pagando pouco hoje, o que você faria? Venderia o produto na baixa ou esperaria até os preços melhorarem?

O que você acha que a Vale vai fazer? Se eu fosse o Agnelli reduzia ao máximo as vendas. Sentava em cima da mina e esperava o mercado estabilizar. É o que ele já fez em relação à Onça Puma. Adotar a mesma medida em relação aos demais minérios é apenas uma questão de a crise se agravar mais um pouco.

Para se ter a dimensão da importância da Vale na economia, os economistas daqui já projetam perdas no PIB do Pará em 2008 e 2009 só por conta dessa queda no preço dos minérios. Para usar uma expressão que eles adoram, a expectativa é de crescimento negativo do PIB pelo menos em 2009 por conta da turbulência.

Por tudo isso, já está passando da hora de o Estado chamar o senhor Agnelli para uma conversa séria. Sem as subserviências que sempre marcaram as relações do governo com a mineradora. 

Só não vê quem não quer

O prêmio Nobel de Economia Paul Krugman é um dos meus gurus. Tanto assim, que o blog dele no NY Times está encarapitado aí do lado, juntinho do Quinta Emenda. Leio diariamente e recomendo.

Ele tem, junto com outras leituras, me facilitado a compreensão da crise econômica atual.

Recentemente ele postou um gráfico muito interessante comparando a evolução da economia durante a crise de 29 com a situação atual.

Como é possível ver e o próprio Krugman diz na postagem, antes que a economia mundial começasse de fato a se recuperar e enquanto ainda estava caminhando para o fundo do poço, o mundo apresentou vários picos de crescimento que foram imediatamente anunciados - todos eles, sem exceção - como o "início da recuperação".

Penso que é isso exatamente o que ocorre hoje. E tem muita gente boa concordando comigo. O grande medo atual é a possibilidade de ainda não termos chegado ao fundo.

Tenho ouvido muitos comentários sobre a crise. É um assunto que me interessa. Alguns são de amargar.

Ontem mesmo, chegando em casa ,liguei a TV e lá estava o tal do Jô Soares e as "Meninas do Jô"- tudo força de expressão,é claro.

Uma delas - É um grave defeito meu e quem me conhece sabe disso muito bem: tenho problemas com nomes -,  não lembro quem (só lembro que usava uma blusa verde horrorosa com uma segunda pele preta por baixo. Uma combinação absolutamente nada a ver com a idade que me fez pensar nos modelitos usados por.... ai, ai, ai, deixa eu voltar para o assunto original).

Pois bem, uma delas tascou um discurso em defesa do Estado Mínimo. O governo não deve interferir em nada. 


Será que a colega não percebeu que foi exatamente a falta de interferência do governo nos mercados o que detonou a crise?

Então, tá. Fica combinado assim: o governo não interfere em nada, os operadores financeiros fazem o que querem e depois se distribui a conta do prejuízo para a população pagar, não é?

A ideia de um mercado totalmente livre e auto-regulamentado - sinto informar, "menina do Jô" - acabou de se esfacelar. Ficou provado que ela só vale quando não existem grandes atores econômicos envolvidos. Quando os grandes começaram a quebrar, nós começamos a pagar a conta.

É preciso, é claro, salvá-los para evitar um mal maior. Mas é preciso, também, começar a colocar alguns limites nessas crianças desordeiras para acabar com a bagunça.  Desliguei a TV com a certeza de que temos muito mais a aprender com a "Super Nanny" do que com o "Programa do Jô".

Os limites da Liberdade

Já tem um tempo que eu venho pensando em criar um blog. A internet 3G recém instalada na minha casa acabou me estimulando a sair da pasmaceira e colocar o blog na rua. O outro motivo que me levou a sair do marasmo é esse debate sobre a liminar que proibiu a exibição de imagens chocantes nos jornais locais.

Por princípio, defendo a liberdade de informação. Mas também por princípio defendo os Direitos Humanos. Até aqui não há nenhum conflito. Afinal de contas, um dos direitos do ser humano é o direito à informação.

O problema é quando o direito à informação é usado para atingir a dignidade humana. É aí que a coisa pega. A liberdade tem um conceito muito complexo. Para que possa ser exercida de forma correta na sociedade ela carece de limites.



"O meu direito termina onde começa o do outro". É uma frase feita, mas nem por isso deixa de estar corretíssima. Existe um limite. Tem que haver.

Dito isso, é preciso também lembrar que existe uma diferença abissal entre informação e sensacionalismo. Existem fotos chocantes, clássicas, como a da criança africana prestes a ser devorada por um abutre. A da menina, nua e com queimaduras, fugindo em desespero na guerra do Vietnã.

São fotos chocantes, violentas, mas que devem ser publicadas porque, por sí sós, representam uma informação relevante. Elas possuem conteúdo jornalístico. São denúncias silenciosas sobre os horrores da guerra, sobre a grave má distribuição de renda no mundo.

Mas qual o conteúdo jornalístico de uma imagem que mostra pedaços do cérebro esfacelado de uma pessoa esmagada por um ônibus? Porque mostrar o cérebro em pedaços? Que informação relevante esse cérebro acrescenta ao texto da notícia? O que pesa mais nesta imagem? A denúncia sobre a violência no trânsito- cuja imagem poderia ter sido retratada de um outro ângulo - ou o interesse de vender mais simplesmente explorando a atração pelo mórbido comum ao ser humano? Essa foto sobrevive como informação relevante fora do texto em que foi publicada? São questões discutíveis.

Não concordo com o Bemerguy quando ele afirma que os jornais devem ter o direito de publicar as imagens e sofrer as consequências cabíveis. Quase sempre essas imagens envolvem pessoas de baixa renda, que têm acesso restrito à Justiça. E há, sim, em minha opinião, um flagrante desrespeito à integridade humana nessas imagens. Gostaria de ouvir um jornalista que seja capaz de dizer que deixaria um parente seu ser exposto dessa forma nas páginas de um jornal.

O senso comum aponta para isso. Qualquer pessoa sabe diferenciar uma imagem chocante mas jornalística de uma imagem sensacionalista.

Nós sabemos que as grandes empresas apenas defendem a liberdade de informação para terem o direito de informar aquilo que lhes é mais interessante, independente do que realmente tem relevância para a sociedade. Se é assim, sempre foi assim e sempre será assim, a sociedade também tem o direito de dizer o que quer ver na grande imprensa. Sem precisar mudar de jornal ou de canal. Existem limites e eles precisam ser respeitados.

Mesmo correndo o risco de apanhar dos colegas, eu não tenho nenhum problema em afirmar que defendo o controle social dos meios de comunicação.

Dou um exemplo. Tive a oportunidade de acompanhar a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, nos idos dos anos 90 quando ainda existia o extinto CBIA (Para quem não viveu essa época, era o Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência).

O Estatuto estabeleceu a proibição do uso de imagens de crianças e jovens em situação de risco e este mesmo debate que está sendo travado agora foi travado naquela época. Hoje, ninguém mais se atreve a questionar a validade do artigo. Ninguém se levanta para dizer que isso é uma forma de censura. Está consolidado. Não é censura. É avanço.

É assim que a sociedade avança. Aos soluços e com muita polêmica.